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Março 2012
 

EM FOCO

ENTREVISTA A ANTUNES DA SILVA, HIDROGEÓLOGO, COORDENADOR DA COLECÇÃO DE CADERNOS TÉCNICOS APIAM

 
APIAM: Foi coordenador do GT da APIAM que pensou, organizou e editou os Cadernos Técnicos sobre a prospecção, execução, exploração, monitorização e protecção de uma captação. Quais os objectivos desta iniciativa e que contributo poderá representar para o sector das águas minerais e de nascente?

Este trabalho tem como objetivo principal o de sistematizar de um modo coerente a informação técnica necessária à obtenção e exploração de águas minerais naturais e de águas de nascente.

Os principais destinatários deste trabalho são os decisores desta indústria, de modo a fornecer-lhes uma base de conhecimento que permita avaliar criteriosamente os investimentos necessários à correta prospeção e exploração do recurso.

Os conteúdos desta colecção são também de grande utilidade para o público consumidor de águas naturais engarrafadas, procurando informá-lo sobre todas as premissas qualitativas de base que estão inerentes a esta indústria, e que são, entre outros,  aspectos distintivos e específicos das águas minerais naturais e de nascente,  a evidenciar a sua especial qualidade.


APIAM: A sustentabilidade ambiental e a preservação dos recursos têm sido uma prioridade para o sector das águas naturais engarrafadas. Neste sentido  que acções/ compromissos deverão os industriais adoptar / implementar  para preservar a qualidade das águas minerais naturais e das águas de nascente portuguesas?

A preservação dos recursos terá sempre que ser a prioridade de qualquer industrial que engarrafe águas minerais naturais ou de nascente!

Assegurar que a qualidade e a quantidade do recurso se mantém ano após ano é o garante de base para o desenvolvimento desta indústria.

Grande parte das explorações assenta, hoje em dia, em captações construidas (sondagens verticais a horizontais).

Todo o trabalho de preservação do recurso tem início na seleção do local de implantação e na técnica de execução de cada captação. Construir bem uma captação é uma decisão estratégica!

A exploração, que deverá assentar num conjunto de captações corretamente construidas, avaliadas e licenciadas pelas autoridades competentes, tem como objetivo último a disponibilização do recurso necessário ao desenvolvimento do negócio.

A manutenção da quantidade e da qualidade vão depender do respeito pelas condições de extração que forem estabelecidas aquando da execução de cada captação.

Entendo que a preservação das águas minerais naturais e de nascente portuguesas depende:
- do acionamento dos mecanismos financeiros e técnicos necessários à disponibilização dos meios que permitam a correta revelação do recurso e sua gestão;
- do estabelecimento de compromissos entre o crescimento da indústria e os volumes de recurso disponíveis de modo a garantir que se mantem a sua renovabilidade;
- da adoção e implementação de procedimentos que assegurem a salvaguarda do recurso.

A gestão correcta do aquífero, na qualidade de “armazém” que regula a disponibilidade de água a comercializar, implica um claro conhecimento da dinâmica do aquífero, tanto do ponto de vista espacial, quanto do temporal. Obriga, portanto, à avaliação do volume dos recursos (entradas efectivas de água no subsolo), das reservas (volume total de água disponivel) e do tempo de permanência da água no subsolo.

Cada uma das empresas de água mineral natural e de água de nascente apoia-se no conhecimento e experiência dos directores técnicos (no caso da águas minerais naturais) ou de outros hidrogeólogos para assegurar o equilíbrio natural do aquífero, em qualidade e quantidade.

O aproveitamento do recurso balizado pelo conhecimento da hidrodinâmica dos sistemas aquíferos (recarga, tempo de contacto entre a água e as rochas) é a garantia da estabilidade química da água, que depois se oferece ao consumidor.

Somos portanto uma industria responsável que tem o privilégio de comercializar um produto precioso, cuja pureza e qualidade necessitam de ser preservadas por uma politica de protecção dos recursos e de limitação do impacto da actividade no meio ambiente.


APIAM: Em sua opinião  quais  foram os mais relevantes desenvolvimentos técnicos da última década a nível da hidrogeologia e que impactos tiveram no sector das águas engarrafadas em Portugal?

A hidrogeologia é uma ciência multidisciplinar, requerendo, por isso, contributos e várias áreas do conhecimento, relacionadas ou não com as ciências da Terra.

Na minha opinião, o maior desenvolvimento que se verificou, nesta área, ao longo da última década, está relacionado com a aplicação de novas tecnologias, ou de tecnologias melhoradas, ao conhecimento hidrogeológico. Este facto tem sido notório nos trabalhos de modelação conceptual da circulação subterrânea recorrendo a ferramentas informáticas evoluidas com a integração de todo o tipo de informação geológica, estrutural, geofísica (onde a evolução tecnológica não cessa), física, química (com grande enfoque na química isotópica), microbiológica.


APIAM: Considerando a sua experiência de Director Técnico, como deve ser combinado/optimizado o  desenvolvimento local, gestão industrial e protecção dos aquíferos?

Na sua larga maioria as unidades de engarrafamento de água mineral e de nascente estão localizadas em zonas com pouca atividade económica e/ou industrial, funcionando como um motor da economia à escala local.

Considero que é fundamental a criação de uma consciência “ambiental” focada na preservação dos sistemas aquíferos.

Da minha experiência julgo que a forma mais eficaz de se chegar à população geral é através da formação dos colegas que trabalham nas nossas fábricas. Fornecer-lhes a informação necessária para que conheçam as formas corretas de agir de modo a salvaguardar a origem do seu próprio sustento, funciona como a criação de uma base significativa de guardiões dos recursos que exploramos. Esta informação tende a difundir-se e a ser extrapolada para outras situações.

A gestão autárquica pode e deve atuar como um parceiro com o estabelecimento das ações necessárias à salvaguarda do recurso, nomeadamente ao nível da definição, em sede de PDM, das restrições consideradas necessárias à proteção das áreas de exploração e recarga dos sistemas aquíferos.


APIAM: Tendo em conta o  recente período de seca que o país atravessa pensa que se justifica o reforço das medidas preventivas habitualmente seguidas pelas empresas com vista a salvaguarda, em quantidade e qualidade, os aquíferos de águas minerais naturais e de águas de nascente ?

A recarga de qualquer sistema aquífero tem como base a pluviosidade!
No entanto, as boas práticas de exploração e o conhecimento existente acerca dos sistemas aquíferos usados para o engarrafamento de águas minerais naturais e de nascente permitem adaptar a extração a formatos em que, salvaguardando a qualidade do recurso e a sua renovabilidade, se assegure as necessidades de produção.

Março 2012
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